DESASSOREAMENTO DE RIOS PARTE II

 

 

DESASSOREAMENTO DE RIOS . PARTE II

 

Olá Caros Leitores, conforme havia prometido, nesta edição continuarei a abordar o tema da edição passada. 

Rio do Calheiros no município de Governador Celso Ramos, também teve seu leito desassoreado em Janeiro de 2016. 

Fotografado por Viviane Becker. 


 

Como vimos anteriormente, o assoreamento é resultado da deposição de partículas sólidas carregadas principalmente por ação das chuvas para o leito de rios e córregos, tornando-os cada vez mais rasos e sujeitos a transbordamentos, e consequentes alagamentos nas áreas urbanas onde o desassoreamento surge como principal ação corretiva porem não definitiva. Uma ação outra corretiva vista por muitos como a melhor alternativa, é a canalização de cursos de água urbanos sujeitos a alagamentos; alternativa esta que do ponto de vista técnico e ambiental é considerada a última alternativa a ser pensada devido ao numero de desvantagens serem muito superior às vantagens que apresenta como veremos a seguir.

Se por um lado, além de diminuir os custos de manutenção no curto prazo, a canalização com alargamento e aprofundamento do leito com consequente aumento de vazão se apresenta como solução contra enchentes em dado ponto da bacia hidrográfica urbana, viabilizando inclusive a construção de pistas viárias às margens da canalização; por outro lado o aumento de vazão do escoamento da canalização é transferido para partes à jusante da bacia, apenas transferindo as possíveis enchentes para outras áreas. Além disso, a canalização irá aumentar a velocidade de escoamento das águas fluviais, o que somado a impermeabilização dos taludes e fundos de vales e superfícies, de modo geral, irá interferir nos fluxos subterrâneos das águas, causando rebaixando o lençol freático.

Em relação às margens do córrego canalizado, estaremos viabilizando a ocupação da várzea do rio e com isto teremos consequentemente uma maior impermeabilização do solo e diminuição das áreas de infiltração e de volumes de retenção de águas. Outro aspecto que não pode ser negligenciado é que um rio não canalizado possui vegetação de bordas e fundo que, caso receba resíduos do esgotamento doméstico (e infelizmente quase sempre recebe...), a vegetação irá “trabalhar”, filtrando naturalmente como remediador da poluição (matéria orgânica nas águas) o que não ocorre com rios canalizados. Obviamente que não estou dizendo que rios não canalizados possam receber esgoto! Mas sabemos que se uma pessoa não tem o bom senso e consciência ambiental e joga seu esgoto em um rio aberto, imagina estando fechado! Exemplos disso temos na maioria dos municípios, onde está obvio que o problema não foi resolvido, apenas transferido e escondido.

Com certeza não podemos justificar todos os problemas como enchentes, alagamentos, poluição, entre outros, responsabilizando as obras de drenagens e canalizações com impermeabilizações de fundos de rios e taludes, conjugados ou não com obras e construção viárias sobre os rios canalizados sem os devidos estudos de impacto de vizinhança. Estas questões são abrangentes e se relacionam com inúmeros outros fatores, entre eles o avanço da urbanização e de loteamentos irregulares, com seus cortes e aterros executados sem critérios técnicos, que favorecem o carreamento de solo pelas águas pluviais; a carência ou ausência de espaços urbanos verdes que possam servir de zonas de retenção e infiltração de água pluvial; o crescimento populacional, etc.

Embora o Brasil possua uma legislação ambiental bastante complexa quando comparada a muitos países, porem por sermos um país relativamente jovem, estamos em um nível de crescimento dos centros urbanos que muitos países já passaram e cometeram erros que agora começam a ser sanados, ou seja, podemos evitar os erros observando-os. Em muitos países já estão sendo executados projetos de recuperação que visam devolver ao cenário urbano do rio antes do impacto das canalizações e impermeabilização, ou seja, a canalização é aberta, retirada a camada impermeável e o rio é revitalizado, pois perceberam às duras custas que a canalização não é a solução efetiva para problemas de assoreamento em cursos de água em áreas urbanas. No Brasil embora esta discussão já exista, ainda que de forma incipiente, ainda há gestores que tem esta visão equivocada sobre os benefícios da canalização de córregos.

 

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